Há algumas canções que nos ficam na memória pelo poder da música. Outras pelo poder da letra. Outras pela conjugação das duas. Outras ainda pela força interior que libertam. Esta canção por Yves Montand, que esteve longe de ser o seu primeiro interprete, aliás a sua interpretação é bastante posterior à utilização e intenção original da canção, canto de resistência ao ocupante Nazi.
Não obstante e talvez precisamente por isso a versão de Montand faz com que esta canção ganhe uma relevância que transcende esse período na história passando a ser uma canção de resistência a todo o tipo de invasão, a todo o tipo de imposição. As palavras se tomadas no sentido literal são obviamente violentas. Não as subscrevo nesse sentido (embora no contexto em que foram utilizadas fossem perfeitamente legítimas), entendo estas palavras no sentido metafórico, porque a resistência não implica forçosamente as armas: Significa isso sim coragem.
Oiçam aqui a canção. A letra é de Joseph Kessel e Maurice Druon . Joseph Kessel viria a fazer parte da Academia Francesa de Letras, estudei pelo menos um livro dele "Le Lion" um livro que recomendo. A música é de Anne Marly de origem russa (nasceu em S. Petersburgo e chamava-se Anna Betoulinski). Esta canção foi aliás originalmente escrita em Russo e depois traduzida e adaptada para Francês pelos dois autores já citados.
Le Chant des Partisans (A canção dos Resistentes)
Ami, entends-tu
Le vol noir des corbeaux
Sur nos plaines?
Ami, entends-tu
Les cris sourds du pays
Qu'on enchaîne?
Ohé! partisans,
Ouvriers et paysans,
C'est l'alarme!
Ce soir l'ennemi
Connaîtra le prix du sang
Et des larmes!
Amigo, ouves
o voo negro dos corvos
nas nossas planícies?
Amigo, ouves
os gritos surdos do país
que acorrentam?
Oh resistente,
Operários e Camponeses,
É o alarme!
Esta noite o inimigo
Conhecerá o preço do sangue
e das lágrimas!
Montez de la mine,
Descendez des collines,
Camarades!
Sortez de la paille
Les fusils, la mitraille,
Les grenades...
Ohé! les tueurs,
A la balle et au couteau,
Tuez vite!
Ohé! saboteur,
Attention à ton fardeau:
Dynamite!
Subam das minas
Desçam das colinas
Camaradas!
Tirem dos fardos de palha
As espingardas, as munições,
as granadas
Matadores,
com balas e com facas,
matai depressa!
Sabotador!
Cuidado com o teu fardo
Dinamite!
C'est nous qui brisons
Les barreaux des prisons
Pour nos frères,
La haine à nos trousses
Et la faim qui nous pousse,
La misère...
Il y a des pays
Ou les gens au creux de lits
Font des rêves;
Ici, nous, vois-tu,
Nous on marche et nous on tue,
Nous on crève.
Somos nós que quebramos
as barras das prisões
para os nossos irmãos,
o ódio que nos persegue
a fome que nos empurra
A miséria ...
Há países onde na cama
as pessoas sonham;
Aqui, nós, vê-la tu,
Nós marchamos e matamos
nós morremos.
Ici chacun sait
Ce qu'il veut, ce qui'il fait
Quand il passe...
Ami, si tu tombes
Un ami sort de l'ombre
A ta place.
Demain du sang noir
Séchera au grand soleil
Sur les routes.
Sifflez, compagnons,
Dans la nuit la Liberté
Nous écoute...
Aqui cada um sabe
o que quer, o que faz
quando passa ...
Amigo se tu caíres
Outro amigo sai da sombra
No teu lugar.
Amanhã o sangue negro
secará ao sol
nas estradas
assobiai, companheiros,
Na noite a liberdade,
ouve-nos ...
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É o doloroso da história, não é? Aqui no vídeo a grande clivagem França - Alemanha, talvez mais do que o grito anti-Nazi. Pelo menos é essa a sensação que me fica.
ResponderEliminarTalvez tenha razão. "Sentiments partagés" diria a minha costela francesa. Há canções (outras) onde é muitíssimo mais clara a oposição ao nazismo mas esse gosto amargo da derrota sem ter sido, do colaboracionismo sem ter sido, da vitória que não se pode reclamar por completo (nem na primeira nem na segunda guerra aliás), de séculos de disputa não resolvida surgem inevitavelmente. Concordo consigo que aqui aparece a superfície sobretudo no vídeo mas se pensarmos um pouco também na letra da canção.
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