domingo, 25 de janeiro de 2009

Boris Vian - Le Deserteur

Numa altura em que nos dizem que a violência combate-se com ainda mais violência, numa altura em que depois de caído um muro se erguem outros dois, esta canção parece demasiado simples. Porém é só aparência. Porque não é obviamente fácil ou simples não reagir ao mal que nos fazem pagando na mesma moeda. Simples, isso sim, é pegar em armas e resolver pela força.

Não significa isto que por vezes não seja absolutamente necessário optarmos por essa via (a história mostra-nos infelizmente que há casos em que é assim), significa antes que sempre que nos digam que os fins que pretendemos atingir justificam os meios que utilizamos, sobretudo quando se sublinha "é a ÚNICA maneira" devemos sempre desconfiar. Os meios têm de ser sempre justos por si próprios, nunca função do fim a que nos propomos.

Esta canção escrita em 1954 é uma canção contra a Guerra da Argélia. Boris Vian (1920-1959) é um autor de canções e de poesia relativamente pouco conhecido. A Espuma dos Dias um romance simultaneamente de ficção cientifica e prosa poética é possivelmente a sua obra mais conhecida. Esta canção de todas as que escreveu é possivelmente a mais interpretada tendo inclusivamente conhecido uma versão portuguesa cantada por José Mário Branco.

A tradução que vos proponho da canção é mais próxima que a do referido cantor e poeta português dado que a letra portuguesa fazia referência explicita à guerra colonial. Pessoalmente prefiro (até porque esta canção na altura tinha uma intenção semelhante) manter uma versão neutra. No mesmo tipo de tema (canções anti-bélicas) podem também ouvir "Mourir pour des idées oui, mais de mort lente".

Oiçam esta canção de Boris Vian aqui.

Monsieur le Président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le Président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter

Sr. Presidente
Estou a escrever-lhe uma carta
Que talvez lirá
se tiver tempo
Acabei de receber
os papeis do exercito
para partir para a guerra
até quarta-feira à noite
Sr. Presidente
Não quero fazer a guerra
Não estou na terra
para matar as pobres pessoas
Não o quero zangar
mas preciso de lhe dizer
que a minha decisão está tomada
vou desertar

Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins

Desde que nasci
já vi o meu pai morrer
já vi os meus irmãos partir
e os meus filhos chorar
a minha mãe sofreu tanto
e seu túmulo
goza das bombas
goza dos versos
quando fui prisioneiro
roubaram a minha mulher
roubaram a minha alma
e todo o meu passado
Amanhã de madrugada
fecharei a porta
no nariz dos anos perdidos
e partirei pelos caminhos

Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:
Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir
S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le Président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer


Irei mendigar a minha vida
nas estrada de França
Da Bretanha à Provence
e direi às pessoas:
"recusai obedecer
recusai fazê-la
não ides à guerra
recusai partir
Se for preciso dar sangue
então dê o seu
sr. presidente
se me perseguir
avise os seus polícias
que não tenho arma
e que poderão facilmente atirar

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