domingo, 15 de fevereiro de 2009

Charles Trenet - La Mer

Charles Trenet nasceu em Narbonne em 1913 tendo falecido em Créteil em 2001. É um cantor e autor que foi por vezes considerado menor, ou popularucho se preferirem devido ao facto das suas canções serem normalmente sobre temas aparentemente pouco profundos e muitas vezes baseados em jogos de palavras "pobres de espírito".

Trenet foi no entanto muito mais do que um "Doido Cantante" como poderia indicar a sua alcunha "Fou Chantant", alcunha que aliás apreciava muito por achar que traduzia a irreverência, a alegria de viver que possuía e transmitia de forma sempre energética.

É aliás esta confusão entre o que era uma forma de encarar a vida, despreocupada e leve, e o seu talento que nos poderia levar a pensar que estamos perante um simples caso de moda que o tempo faria desaparecer. É uma opinião que não partilho. Trenet foi senhor de uma voz invejável e um grande poeta. Leiam por exemplo este poema:

Le Mort
Vous emporterez ma quiétude
Au fond de la légende bleue,
Compagnon de la solitude.
Chevalier d'opéra qui narguez les orages,
Aux rumeurs des grands ports, aux aubes malhabiles
Vous apprendrez le mot de passe.
Et les gens pourront s'étonner
Comme sur une autre planète
De voir des visages de cire
A leur amour que vous rendrez indifférent.

O morto
Levarão a minha quietude
Ao fundo da lenda azul,
companheiros da solidão.
Cavaleiro da ópera que fazem pouco das trovoadas,
Nos rumores dos grandes portos, nas madrugadas pouco hábeis
Aprendem o código de passagem.
E as pessoas poderão espantar-se
Como se estivessem noutro planeta
de ver as suas caras de cera
Do seu amor que tornarás indiferente.

Trenet foi também actor para além de cantor e escritor arte na qual espalhou também a mesma alegria de viver.

Depois da segunda guerra foi muitas vezes acusado de ter "colaborado" com os nazis por ter durante participado em alguns espectáculos para os prisioneiros franceses e também em grande parte por ter continuado a actuar nos cabarets parisienses então frequentados essencialmente por oficiais e soldados alemães. Que me desculpem estes últimos posts estarem tão marcados por esta parte da história de França e da Europa porém é difícil falar destes grandes poetas sem falar de uma realidade que os marcou tão fortemente. E de qualquer forma é uma realidade que não podemos esquecer.

Fiquem então com "La Mer" de 1946 a pedido de uma nossa leitora Gasolina a que junto o convite para visitarem o seu blog aqui .

La mer
Qu'on voit danser le long des golfes clairs
A des reflets d'argent
La mer
Des reflets changeants
Sous la pluie

O Mar
que vemos dançar nas baías claras
Tem reflexos de prata
O Mar
tem reflexos que mudam
à chuva

La mer
Au ciel d'été confond
Ses blancs moutons
Avec les anges si purs
La mer
Bergère d'azur
Infinie

O Mar
No céu de verão confunde
com os seus carneiros brancos
com os anjos tão puros
o Mar
Pastora de Azul
Infinita

Voyez
Près des étangs
Ces grands roseaux mouillés
Voyez
Ces oiseaux blancs
Et ces maisons rouillées

Vejam
perto dos lagos
esses roseirais molhados
Vejam
esses passaros brancos
E essas casas enferrujadas

La mer
Les a bercés
Le long des golfes clairs
Et d'une chanson d'amour
La mer
A bercé mon cœur pour la vie

O Mar
embalou-as
Nas baías claras
e numa canção de amor
o Mar
embalou o meu coração para a vida

2 comentários:

  1. Je vous remercie.
    Merci bien pour ce moment enchanté. Avec la mer et un petit morceau d'histoire (ça fait le necessaire!)

    Bisous

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